Harmonia para uma vida plena
- Idalo Spatz
- 20 de out.
- 2 min de leitura
No Arpoador, quando a maré se recolhe e o vento traz o cheiro salgado da vida, aprendo que o futuro não está distante — ele cabe no intervalo de uma respiração. Uma inspiração funda pode ser o início de um recomeço; uma expiração lenta, o fim de um peso que já não nos pertence.
O erro é acreditar que o equilíbrio é um destino. Equilíbrio sugere esforço, corda bamba, tensão permanente. A vida, porém, não pede rigidez, mas harmonia — como na Bossa Nova, onde cada acorde só faz sentido porque respira junto com o silêncio.
Espinosa diria que o corpo é a expressão de Deus em ato. Se o negligenciamos, cortamos o fio pelo qual o sagrado se manifesta. Cuidar da saúde física e mental não é vaidade, mas responsabilidade com a própria caminhada. É o Tao lembrando: o rio só flui porque não luta contra as margens.
O presente exige atenção. Uma decisão pequena — o copo de água, a pausa
consciente, a palavra dita sem agressividade — pode abrir desdobramentos mais saudáveis do que anos de arrependimento.
Kierkegaard lembraria que viver é escolher, e cada escolha é também uma renúncia.
Na areia fina, vejo crianças correndo como se fossem eternas. Ao lado, um senhor caminha devagar, mas com passos firmes, dono de uma leveza que a pressa desconhece. Talvez ele tenha aprendido que ser protagonista da própria existência não é brilhar em todos os palcos, mas cumprir o papel silencioso de estar inteiro em cada cena.
A vida não pede que sejamos perfeitos. Pede apenas que sejamos plenos — atentos ao instante, conscientes do todo, capazes de oferecer ao mundo aquilo que só nós podemos dar.
E quando isso acontece, o sentido da vida deixa de ser uma pergunta. Ele se torna música — como um violão tímido que insiste em tocar no pôr do sol, mesmo quando ninguém está ouvindo.
Idalo Spatz


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