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Em Busca de Bons Encontros

É no balanço sereno da areia do Arpoador que, às vezes, a gente encontra respostas para perguntas que parecem simples — mas carregam a densidade do oceano.

“Bons encontros”.

À primeira vista, soa como pleonasmo. Como dizer “subir pra cima” ou “sorrir feliz”. Um excesso permitido pela língua — e pela alma — pra dar ênfase. Porque, no fundo, a gente sabe: nem todo encontro é bom. Nem toda travessia é ponte.


A luz da tarde, esvaindo-se em aquarela sobre o céu do Rio, nos convida a pensar com mais vagar. Um encontro, na sua essência, é o entrelaçar de caminhos.

O toque breve — ou profundo — entre duas existências. Como dizia Vinicius, com a delicadeza que só os poetas sustentam:

“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.”

E como há.

Há encontros que não somam — subtraem.

Há encontros que ferem, que rasgam o que deveria acolher.

Encontros que, em vez de expansão, nos contraem.

Esses, talvez, não sejam trágicos. Mas são opacos. Não nos elevam, nem nos devolvem a nós mesmos. São como maré contrária: exigem esforço, desgastam o corpo e confundem a rota.

O Tao ensina que o fluxo natural é suave, sem atrito. Bons encontros fluem — os demais, resistem. São quedas de energia, pontos cegos na travessia da alma.

 

Nietzsche, com sua lucidez incendiária, talvez sorrisse com desdém e dissesse: “O que não nos mata, nos fortalece.” Talvez. Ou talvez só nos cale temporariamente. Mas é certo que até o mau encontro tem sua pedagogia: ele nos ensina a discernir. A reconhecer o que vale a pena. A aguçar a vontade de potência que habita em nós.

O estoicismo, mais sereno, sugeriria aceitar os encontros ruins como se aceita a chuva: sem revolta, com elegância. Porque o que importa não é o que nos acontece, mas como respondemos.


Mas e o desencontro?

Ah... o desencontro é outra coisa.

O desencontro é o samba triste dos afetos que quase foram.

É a ausência do olhar que não se cruzou, da palavra que chegou atrasada.

É a solidão a dois de que falava Kierkegaard: aquela distância abissal entre dois corpos próximos.

O desencontro não machuca como o mau encontro — ele entristece.

Como uma canção interrompida antes do refrão.

Por isso, quando um bom encontro acontece, ele é tudo.

Não é pleonasmo. É mágico.

É quando o mar entende a areia.

Quando o sol entende o horizonte.

Quando “Pela luz dos olhos teus” faz sentido até pra quem nunca dançou de rosto colado.

O bom encontro é Espinosa em estado de poesia:

“A alegria é a passagem para uma perfeição maior.”

É isso.

O bom encontro aumenta nossa potência de existir.

Nos devolve ao mundo maiores, mais leves, mais vivos.

E mesmo que venha a noite, o farol do Arpoador segue lá, firme.

Sinalizando que, apesar das marés, ainda há beleza à espera de quem se permite encontrar

— e ser encontrado.

 

                           Idalo Spatz

 

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