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Sincronicidade

Imagine você, caminhando pela orla de Ipanema, pensando naquela frase que toca fundo na alma, quando, de repente, a voz suave da rádio na praia repete exatamente aquelas palavras, como se o mar sussurrasse mensagens secretas. Ou então, aquela intuição que insistia, mesmo sem razões aparentes, e que depois se prova o norte que faltava para seguir. Não é acaso, não é coincidência, mas um convite silencioso do inconsciente coletivo — esse reservatório ancestral que Jung desvenda — para ouvir o que o coração tem a dizer.

 

Nietzsche talvez sorriria desse encontro entre o súbito e o premeditado, pois para ele, a vida não é uma sequência ordenada, mas uma dança caótica e bela do eterno retorno, em que tudo se repete com nuances infinitas, como a melodia reinventada de uma bossa nova no violão de Tom Jobim. Sim, esses momentos que transcendem a causalidade são sinfonias da existência, onde o ora e o para sempre se entrelaçam.

 

Kierkegaard, por sua vez, destacaria o salto de fé — abraçar o mistério do desconhecido, mesmo quando a razão insiste em cobrar explicações, aceitando o paradoxo com resignação e encanto.

E Camus, sempre atento ao absurdo, nos ensinaria a rir dessas coincidências que não convencem a lógica, porém enchem de sentido a nossa caminhada, uma revolta poética contra o vazio da existência.

 

E no meio dessa dança de eventos e significados, o taoísmo nos convida a fluir, a sentir e a acolher sem forçar. É o Wu Wei dos fenômenos, uma entrega silenciosa ao fluxo natural do que deve ser, sem resistência, permitindo que as sincronicidades se revelem como portais para novos caminhos.

 

Nesse compasso, a sincronicidade é a linguagem secreta do cosmos, onde o universo nos fala, não pelos grandes fogos de artifício, mas pelos pequenos detalhes — um olhar, uma palavra cruzada, um sonho compartilhado. Ela desafia nossa sede de controle e compreensão, lembrando que a vida é, sobretudo, mistério, e que a beleza reside justamente em deixar-se surpreender.

 

E assim, enquanto a noite carioca toma conta de Ipanema, seguimos atentos, ouvindo a melodia inesperada do acaso que, em sua dança invisível, nos conecta, nos atravessa e, sobretudo, nos revela.

 


                                Idalo Spatz

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