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Frieza Emocional

A brisa de outono em Ipanema nem sempre alcança os corações mais fechados.

Aqui, onde o mar beija a areia em ondas de poesia, há quem se endureça como mármore.

O amor, esse enrosco bom, às vezes tropeça num muro invisível, erguido por mãos que, tentando proteger, acabam por aprisionar.

A frieza emocional, disfarçada de força, silencia a melodia da intimidade e afasta o que mais se deseja: conexão.

Aprendemos cedo que o "eu" é rei. Que a autonomia é um tesouro.

E é.

Mas o que acontece quando esse “eu” vira uma fortaleza e o outro, um invasor?

A liberdade — tão exaltada pelos existencialistas — escorrega, e vira pretexto para a solidão.

Medo de se perder. Medo de se dissolver no “nós”.

Mas, como dizia o velho Hegel, é no espelho do outro que nos reconhecemos de verdade. Negar essa dança é como mirar o reflexo de um rio sem jamais tocar sua correnteza.

O Tao sussurra: a vida é fluxo.

A frieza, com sua rigidez, tenta conter o curso d’água.

É como querer congelar o Arpoador num bloco de gelo.

Mas o rio — sábio e livre — sempre encontra seu caminho.

E nós, se quisermos viver em harmonia, precisamos aprender a fluir com ele.

A vulnerabilidade, que tanto assusta, é justamente a força que derrete o gelo.

Aceitar o outro — em suas dobras, falhas e jeitos — é também aceitar as nossas.

Criticar demais, apontar dedos, manter-se na superfície —

é como tentar encher um copo furado.

O Tao nos diz: isso é desequilíbrio.

É afastamento da nossa verdadeira natureza.

Foucault talvez dissesse que a desvalorização do outro é uma forma sutil de poder:

diminui-se o outro para se sentir grande.

Mas, no fundo, isso ecoa o vazio de quem teme o espelho da intimidade.

Então, que tal deixar o mármore virar rio?

Que tal soltar a rigidez, permitir-se a correnteza das emoções?

Mergulhar no encontro, aceitar o outro em sua totalidade,

e fazer do medo não uma âncora — mas um convite a navegar?

Derreter o gelo é ato de coragem.

É entrega.

É a travessia rumo à plenitude que a vida, generosa, insiste em oferecer.

Afinal, por que ser pedra,

se a alma quer ser rio?

 

                                           Idalo Spatz

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