Frieza Emocional
- Idalo Spatz
- 7 de jul.
- 2 min de leitura
A brisa de outono em Ipanema nem sempre alcança os corações mais fechados.
Aqui, onde o mar beija a areia em ondas de poesia, há quem se endureça como mármore.
O amor, esse enrosco bom, às vezes tropeça num muro invisível, erguido por mãos que, tentando proteger, acabam por aprisionar.
A frieza emocional, disfarçada de força, silencia a melodia da intimidade e afasta o que mais se deseja: conexão.
Aprendemos cedo que o "eu" é rei. Que a autonomia é um tesouro.
E é.
Mas o que acontece quando esse “eu” vira uma fortaleza e o outro, um invasor?
A liberdade — tão exaltada pelos existencialistas — escorrega, e vira pretexto para a solidão.
Medo de se perder. Medo de se dissolver no “nós”.
Mas, como dizia o velho Hegel, é no espelho do outro que nos reconhecemos de verdade. Negar essa dança é como mirar o reflexo de um rio sem jamais tocar sua correnteza.
O Tao sussurra: a vida é fluxo.
A frieza, com sua rigidez, tenta conter o curso d’água.
É como querer congelar o Arpoador num bloco de gelo.
Mas o rio — sábio e livre — sempre encontra seu caminho.
E nós, se quisermos viver em harmonia, precisamos aprender a fluir com ele.
A vulnerabilidade, que tanto assusta, é justamente a força que derrete o gelo.
Aceitar o outro — em suas dobras, falhas e jeitos — é também aceitar as nossas.
Criticar demais, apontar dedos, manter-se na superfície —
é como tentar encher um copo furado.
O Tao nos diz: isso é desequilíbrio.
É afastamento da nossa verdadeira natureza.
Foucault talvez dissesse que a desvalorização do outro é uma forma sutil de poder:
diminui-se o outro para se sentir grande.
Mas, no fundo, isso ecoa o vazio de quem teme o espelho da intimidade.
Então, que tal deixar o mármore virar rio?
Que tal soltar a rigidez, permitir-se a correnteza das emoções?
Mergulhar no encontro, aceitar o outro em sua totalidade,
e fazer do medo não uma âncora — mas um convite a navegar?
Derreter o gelo é ato de coragem.
É entrega.
É a travessia rumo à plenitude que a vida, generosa, insiste em oferecer.
Afinal, por que ser pedra,
se a alma quer ser rio?
Idalo Spatz


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