Fé sem dogma, é brisa no Arpoador
- Idalo Spatz
- 18 de set.
- 2 min de leitura
No Arpoador, quando o sol começa a se despedir e o mar devolve ao céu um reflexo dourado, a vida parece nos ensinar o que livros sagrados tentam há milênios traduzir.
É ali, entre um violão tímido que escapa de um quiosque e o riso fácil de quem veio só para ver o espetáculo, que a sincronicidade se revela: um olhar que encontra outro olhar, uma palavra que chega na hora certa, um gesto simples que transforma o dia de alguém.
Chame isso de fé, energia ou espiritualidade — pouco importa o nome.
Como dizia Espinosa, Deus não está fora, mas pulsa em cada modo de existir.
A gentileza que desperta outra gentileza não é apenas um ato moral, mas a própria expressão do Tao: a vida fluindo sem esforço, a maré devolvendo ao corpo humano a lembrança de que somos todos onda de um mesmo oceano.
Religião, com suas doutrinas, muitas vezes tenta aprisionar esse fluxo em dogmas.
Espiritualidade, ao contrário, é a experiência direta — o arrepio que sentimos quando a brisa toca a pele no instante exato em que precisamos de um sinal.
Kierkegaard lembraria que a fé é salto; Camus, que é também revolta contra o absurdo; mas talvez seja, antes de tudo, uma confiança silenciosa de que o invisível tem sua música própria.
E nessa música, a compaixão é o acorde maior, a empatia o contrabaixo suave, e a fé — não como crença cega, mas como entrega à dança do instante — o ritmo que nos devolve à harmonia.
O cidadão de valor não é o que acumula conhecimentos ou certezas, mas aquele que, mesmo sem saber, deixa rastro de luz por onde passa.
No fim, fé, energia, gentileza, empatia, compaixão e espiritualidade não são conceitos separados.
São o mesmo fio invisível, tecido pelo Tao, que atravessa cada gesto humano.
E quem aprende a enxergá-lo já não precisa de religião para sentir o sagrado
— basta estar presente no pôr do sol de hoje.
Idalo Spatz


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