Inteligência e Maturidade
- Idalo Spatz
- 15 de set.
- 2 min de leitura
No Arpoador, o pôr do sol não tem pressa.
O céu se colore aos poucos, como quem aprende a envelhecer sem perder o frescor da juventude.
Ali, entre o dourado que desmaia no mar e os aplausos espontâneos da multidão, me peguei pensando: o que diferencia a inteligência da maturidade?
Ambas parecem irmãs próximas, mas caminham em ritmos distintos.
A inteligência, como uma onda veloz, nos dá a capacidade de entender, analisar, calcular.
Já a maturidade é a maré mansa que retorna sempre, paciente, sabendo que tudo tem seu tempo.
O Tao diria que inteligência é a lâmina afiada da espada; maturidade,
a mão que decide quando não usá-la.
Nietzsche talvez lembrasse que o homem inteligente ainda pode ser imaturo,
enquanto o maduro sabe rir de si, sem ressentimento.
Camus sorriria com ironia: a inteligência pode reconhecer o absurdo da vida, mas só a maturidade aceita viver mesmo assim, como quem mergulha no mar sabendo que ele é infinito.
E Espinosa, sempre solar, ensinaria que tanto inteligência quanto maturidade só têm valor quando harmonizadas pela Ética: o desejo de perseverar no ser, mas sem esmagar o outro.
Para ele, o verdadeiro sábio não é o mais inteligente, nem o mais maduro, mas o que consegue alinhar suas paixões à alegria — aquela alegria que aumenta nossa potência de existir.
Talvez, no fim, ser uma pessoa de “valor” não seja acumular títulos nem se orgulhar
de experiências sofridas, mas dançar entre esses dois atributos como Tom Jobim
dançava entre a melodia e o silêncio.
Inteligência e maturidade não competem: se abraçam.
O sol se despede.
Aplaudido, mergulha no horizonte.
E penso: quem sabe, ser de valor é exatamente isso — deixar que os outros aplaudam o pôr do sol em nós, não pela inteligência que tivemos, nem pela maturidade que exibimos, mas pela beleza silenciosa da harmonia que soubemos cultivar.
Idalo Spatz


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